Tuesday, February 26, 2008

O SILÊNCIO DOS PROFETAS

“O profeta que tem sonho conte-o como apenas sonho; mas aquele em quem está a minha palavra fale a minha palavra com verdade. […] Eis que eu sou contra esses profetas, diz o Senhor, que pregam a sua própria palavra e afirmam: Ele disse”. Jeremias 23.28,31

Um profeta sério pregava o juízo. O Deus Eterno e Todo Poderoso anunciava: “não se desviará a ira do Senhor, até que ele execute e cumpra os desígnios do seu coração...” (Jer23.20). Uma nação ímpia dominaria sobre o reino de Judá e a cidade santa, Jerusalém, cairia nas mãos dos perversos opressores.
Algo inconcebível para muitos, mas real e iminente. E então o caminho se torna propício para a chegada dos “politicamente corretos” de plantão, que não aceitam a palavra do profeta Jeremias. Têm que fazer alguma coisa para manter “o moral do povo” elevado. E encontram um meio: anunciar ao povo palavras de paz e segurança, em nome de Deus.

A história parece se repetir a cada momento de crise que enfrentamos. Quando o juízo de Deus é anunciado, os “profetas-bonzinhos” se armam e se apresentam ao povo atraindo milhares de seguidores, angariando tudo o que é possível, com palavras de encorajamento e paz!
Quando parece que não temos um juízo iminente e a Igreja não está sob perseguição, então aparecem os “profetas-do-poder” buscando animar a “galera” e levantar uma multidão em clima de parada carnavalesca! E o ciclo continua.

Mas as palavras de Deus são claras: “Eu sou contra esses profetas, diz o Senhor, que pregam a sua própria palavra...”. A questão é que anunciam o que Deus não anunciou. Falam do que não entendem porque jamais estiveram no Conselho de Deus (Jer 23.22). Proclamam falsas esperanças aos ímpios e rebeldes, ignorando que não há paz para os pecadores (“...paz tereis...” Jer 23.17).
Sonham sonhos do coração, fruto da vontade humana e de preocupações diárias e dizem: Deus falou. Desprezam a Bíblia como um todo e se apresentam como “profetas-com-revelações” e proclamam o que o Senhor jamais ensinou, levando o povo a pecar: “Eis que eu sou contra os que profetizam sonhos mentirosos, diz o Senhor, e os contam, e com as suas mentiras e leviandades fazem errar o meu povo; pois eu não os enviei, nem lhes dei ordem; e também proveito nenhum trouxeram a este povo, diz o Senhor” (Jer 23.32).

Se por um lado os enganadores de plantão estão ávidos por lucros fáceis, enganando os que ignoram as Sagradas Escrituras, por outro lado os que foram chamados a anunciar a Palavra de Deus com verdade e retidão têm se omitido por medo do julgamento do mesmo povo. Disse o Senhor: “...aquele em quem está a minha palavra, fale a minha palavra com verdade” (Jer 23.28b). Quem oculta a verdade peca! Quem apresenta mentiras como verdades, peca também. De um e de outro lado a Igreja do Senhor Jesus Cristo tem sofrido “feridas” que custam a fechar. São “chagas” abertas pela incoerência e maldade dos cobiçosos, e pelo silêncio dos profetas que foram chamados ao anúncio da verdade Bíblica.

Assim a Igreja vive como “feira de atrações”, infrutífera, destituída do verdadeiro poder de Deus para testemunhar e profetizar a verdade de Deus a um mundo injusto e ímpio. “Que tem a palha com o trigo? - diz o Senhor” (Jer 23.28c).
Infelizmente muita gente tem se deixado enganar pelos “profetas bonzinhos” e abandonaram os princípios fundamentais da fé e da prática cristãs. Daí os escândalos, os movimentos vazios, as neuroses, os enriquecimentos ilícitos, as críticas ferrenhas dos não-cristãos, a falta de testemunho e de caráter de muitos.
· Há daqueles que querem só festa e alegria para anestesiarem-se diante do sofrimento de tantos. Olham para o mundo em crise e agradecem por não serem deste mundo...
· Há daqueles que só pensam no crescimento da comunidade local a qualquer preço, desprezando a realidade de milhões que nunca ouviram sequer uma palavra sobre Jesus, o Cristo vivo. Chegam ao ponto de dizer que o trabalho missionário não é seu chamado.
· Há daqueles que retiram missionários dos campos para colocarem-nos como obreiros na igreja local dando desculpas de que aqui se tem mais “resultados”. Pressionam os que resistem cortando salários e benefícios e retirando qualquer apoio. Escondem suas ações em nome da “obediência à autoridade”, esquecendo-se de que nenhuma autoridade cancela a Palavra de Deus!
· Há daqueles que trabalham o ano todo para um “mega- evento” só para mostrarem o tamanho de seus ministérios. Não há preocupação com crescimento espiritual, com discipulado, com valores eternos do reino de Deus. Tudo não passa de uma festa como a das grandes empresas de marketing direto: fúteis e superficiais mas com promessas de ganho exorbitante!
· Há daqueles que querem apenas que o “seu reino venha à realidade” e não o reino de Deus. Querem controlar as vidas das pessoas e para isso utilizam os métodos mais pragmáticos possíveis para manterem as massas sem o estudo sistemático das Escrituras. Os cultos são shows lindos e vazios, alimentando a carne pela música repetitiva e de balanço apelativo. Há muito a música deixou de ser tratada como resultado de oração, de lamento diante do Senhor, de experiências de fé e amor, de testemunho e graça. São canções para mimar o coração, e não para louvar e adorar ao Rei dos reis.
· Há daqueles que se esforçam para terem um ministério tão famoso que pagam o preço da impiedade com moeda sagrada. Não importam os meios... querem no fim ser reconhecidos. São tão estelionatários quanto qualquer criminoso, mas se escondem por detrás da espiritualidade (ou do que chamam de espiritualidade). Se são questionados ou perseguidos, colocam-se como vítimas e se dizem perseguidos por causa de sua fé. E tem gente que acredita.
· Há ainda os que se revestem de “mantos de poder” para manterem seu status e se enriquecerem sem questionamentos. Pobres seres humanos que colocam sua esperança na “instabilidade da riqueza” (1Tim 6.17) e perdem a oportunidade de serem ricos de esperança (Rm 15.13), ricos de boas obras (1Tim 6.18) e ricos em fé (Tg 2.5).
· Há ainda os que ensinam o que jamais aprenderam, exigem o que não fazem, pedem o que não conhecem e aproveitam-se da inocência e ignorância dos que os cercam para manterem-se em alta. Esquecem-se das palavras de Jesus contra os fariseus que agiam assim também (Mt 23).
· Há grupos de pessoas que se chamam de igreja mas que têm compromisso apenas com o mundo e seus cuidados. Jogam a culpa nos pastores e líderes para tentarem se livrar do juízo de Deus (como se fosse possível) e exigem muito, criticam muito, e não se envolvem em nenhuma obra de valor eterno. Seu objetivo é tratar seus líderes como marionetes e controlá-los usando os dízimos e ofertas.
· Há ainda os que vêem a igreja local como se fosse um clube, uma associação, um ajuntamento de interesses, e desprezam a verdade de que a igreja é família! Há só um Pai sobre essa casa e que deve ser temido e respeitado, obedecido e adorado!
· Há os que querem se alegrar apenas com os que se alegram. Não aceitam chorar, não sabem lamentar o pecado; não sabem mais o que é se entristecer por causa da desobediência. Já não pedem perdão porque os cultos não têm lugar para os “deprimidos”.
· Há os que abandonam seus próprios membros ao desprezo e ao engano do sistema mundano e maligno, dizendo: “Vá em paz, aqueça-se e alimente-se até satisfazer-se” (Tg 2.16). Se lessem a Bíblia direito veriam que Deus não vê proveito em nada disso.
· Há aqueles que querem um culto que lhes dê alívio. Irritam-se com mensagens que falam contra o pecado, contra a injustiça, contra a desonestidade. São adoradores das mensagens de auto-ajuda e só aceitam o que lhes dá algum tipo de prazer emocional. Perdem de vista o valor do arrependimento verdadeiro, da cruz e sua força perdoadora.
· Há os que pensam que o poder de Deus é uma sequência interminável de “experiências” e quando não encontram em sua comunidade local, correm para o rebanho de outros. Levam sempre uma expectativa em “sinais” gerando tensão e desastres por onde passam. Criticam os que pregam “só a Bíblia”. Querem explicações psicológicas sobre os personagens bíblicos ainda que isso resulte em total deturpação de princípíos eternos.
· Há os que criticam os que fazem análises como essa que me atrevo a fazer, dizendo que quem assim procede é porque não é espiritual ou não conhece o poder de Deus. Desprezam os que pensam e analisam à luz da Bíblia, pois querem manter-se intocáveis e “super-alguma-coisa”.

Quem sou eu para criticar a Igreja de Cristo? Ninguém. Não se critica a Igreja do Senhor. Criticam-se os desvios da verdade. Jeremias, cheio do Espírito Santo, fui usado pelo Senhor para avisar a todos que Deus não ignorava os falsos profetas:
“Sou eu apenas um Deus de perto, pergunta o Senhor, e não também um Deus de longe? Poderá alguém se esconder sem que eu o veja? Pergunta o Senhor. Não sou eu aquele que enche os céus e a terra? Pergunta o Senhor” (Jer 23.23,24).

Alguém dirá: é fácil criticar. O que se deve fazer de concreto diante de tudo isso?
Irmãos e irmãs que lêem com interesse essa pequena mensagem: Ouçam o que dizem as Escrituras Sagradas!

Abram seus ouvidos para a Bíblia como um todo, estudem o que nela está escrito. Comparem texto com texto, interpretem a Bíblia com a Bíblia. Temam a Deus, sejam sérios em obedecer. Arrependam-se se for o caso, chorem e lamentem suas culpas (Tg 4.9,10). Abram seus corações para a cruz entendendo que não há Pentecoste sem cruz.
Entreguem-se de coração às verdades das Escrituras entendendo que Deus não muda! O que Ele afirma como sendo bom, é bom. O que Ele diz que é pecado, é verdadeiramente pecado. O que Ele diz que vai acontecer, vai mesmo acontecer! Creiam nas promessas e profecias bíblicas.
Rejeitem as profecias que não edificam, não consolam nem encorajam (1Cor 14.3; Jer 23.32). Temam a Deus, não temam os homens, ainda que se digam profetas (Dt 18.22). “Não tratem com desprezo as profecias, mas ponham à prova todas as coisas e fiquem com o que é bom” (1Ts 5.20,21), pois esse é o verdadeiro contexto do “examinar tudo”.
Amem seus irmãos e irmãs em Cristo. Andem com eles, discipulem os novos na fé, atentem para as necessidades de todos, mas saibam discernir a verdade. Andem em paz, no que depender de vocês (Rm 12.18). Sejam fiéis na prática do bem (Hb 13.16).
Levem o Evangelho a toda a criatura(Mt 28.18-20), reconhecendo que o mundo é muito maior do que a sua cidade. Entendam que o Brasil tem experimentado um avivamento, mas não é essa a realidade na maioria dos países do mundo. Há milhares de povos com suas diferentes línguas, que jamais ouviram falar de Cristo e jamais ouvirão se alguém não for a eles (Rm 10.13-15). Enviem missionários, mas enviem com critério. Sejam objetivos e claros, comuniquem a verdade em amor (Ef 4.15).
Pensem nos que sofrem ao redor do mundo. Sejam abertos de mente, ajam com inteligência e não percam a sensibilidade e a disposição de chorar. Atentem para os desastres e tenham misericórdia. Afinal Deus quer que seu povo seja misericordioso (Os 6.6).
Não desprezem as pequenas igrejas locais. Não estão em pecado os que não são grandes. São testemunhas do amor de Deus e devem ser respeitadas. Vejam onde a Igreja não está e não onde a sua denominação não domina.
Sejam criteriosos na escolha de pastores (1Tm 3.1-7). Olhem para suas vidas, suas famílias, seu conhecimento bíblico, sua estrutura emocional. Sejam sérios no treinamento de obreiros e não desprezem os que não têm carisma de poderosos pregadores. Todos têm seu valor diante de Deus. Olhem para os pastores como servos mas não abusem deles. Sejam fiéis no trato com todos, amem, cuidem, sustentem com dignidade e compromisso(1Tm 5.17).
Voltem para o óbvio: preguem o Evangelho a cada pessoa, amem-se uns aos outros, sejam doadores de boas obras, leiam e meditem na Palavra de Deus diariamente, ensinem os novos na fé a serem fiéis e a não caírem nas tentações deste mundo. Sejam fiéis, ensinem aos fiéis, transformem seu mundo.
“Abre a boca a favor do mudo, pelo direito de todos os que se acham desamparados” (Pv 31.8). Não percam de vista a realidade de milhões sem pátria, sem casa, sem família, sem esperança. Lutem pelo que é justo, mas lutem com as armas da justiça e do amor.
Sejam profetas anunciadores de esperança e fé, mas não se calem diante dos pecados que destróem. Sejam proclamadores de alegria duradoura e recusem a superficialidade dos cultos-show. Lembrem-se a quem o culto é dirigido!
Entendam as pessoas. Sejam bondosos. Não critiquem os que servem, pelo contrário, ajudem-nos. Lembrem-se de que somos iguais perante Deus e que Ele é o juiz. Amem o pecador...

Acima de tudo irmãos e irmãs no Senhor:
· Diante das catástrofes aterradoras, orem e ajam;
· Diante da realidade espiritual deste mundo caído, orem e enviem missionários;
· Diante dos escândalos que mancham o testemunho da Igreja, orem e respondam com bom testemunho e amor;
· Diante da insensibilidade e individualidade deste sistema injusto e ímpio, orem e sejam homens e mulheres de fé, de lágrimas intercessoras, de ações justas e realizadoras que tenham base em princípios da Bíblia Sagrada;
· Diante da manipulação dos que se dizem líderes, orem, pensem e meditem nas Escrituras. Usem a inteligência que Deus lhes deu;
· Diante da mentira, falem, vivam e lutem pela verdade;
· Diante da verdade, ajoelhem-se em destemida submissão e confessem seu amor pelo Senhor Jesus Cristo (Jo 14.6). Ele é o Senhor da Igreja resgatada!
O Senhor nos dê, a todos, coragem para obedecer e sabedoria para viver.

Pastor Antonio Carlos Nasser
Fevereiro de 2008.